Que faltam
diversos ajustes para que a atual administração municipal de Porto Velho
alcance um mínimo de organicidade, isso qualquer pessoa mediana já percebeu.
Obviamente existem os aduladores de plantão que, a despeito de sua formação
acadêmica e do compromisso que deveriam ter com o embasamento científico, não
demorem em fabricar argumentos para contestar o que salta aos olhos.
E o que é mais
grave: essa ausência de organicidade na máquina administrativa está presente
também no âmbito interno de algumas pastas, como se reunissem um monte de gente
estranha – estranhas umas às outras e, em alguns casos, estranhas também no
jeito de ser – num desses reality shows,
que fazem as televisões sem compromisso social bombarem de audiência.
Que a analogia
é com A Fazenda, programa da Record, o nobre leitor já percebeu no título. Mas
poderia ser com o Big Brother ou qualquer outra excrescência midiática desse
quilate. E o que é que tais programas têm de mais imoral? A competição ilícita,
com falsidades, enganações, traições, armações, cinismo, desfaçatez, egoísmo...
a lista é longa. E no serviço público são coisas que crescem na medida em que
falta um senso de governança.
O discurso de
Hildon em campanha, centrado na juridicidade, se revelou falso nos primeiros
dias de exercício do cargo, quando sancionou, ao arrepio da Lei de Uso e
Parcelamento do Solo, a doação de um logradouro público para um empreendimento
comercial numa área que não admite a existência de um estabelecimento do porte
que se pretende. E por que não admite: porque a legislação urbanística tem como
fonte o planejamento urbano.
Parece que
agora já conseguiram que o Conselho da Cidade, um colegiado capenga que não
consegue quórum pra reunir duas de suas quatro câmaras, aprovasse – sem
qualquer estudo mais apurado – o anteprojeto de adequar a lei aos interesses de
quem a transgrediu. O problema seria menor se tivessem o cuidado de pelo menos verificar
as implicações, principalmente viárias, que a condescendência com
empreendimentos irregulares pode trazer.
O prefeito
Hildon, em que pese o discurso de campanha focado na juridicidade, não
apresentou até agora o que se espera de uma administração com tal perfil. Em
janeiro próximo os municípios sem plano de saneamento básico não receberão mais
investimentos da União. O plano, por lei, deve cobrir toda a extensão
territorial do município e deve, também, ser construído em consonância com os
demais planos.
Porto Velho tem
33 mil quilômetros quadrados, com rios, igarapés, lagos, furos, canais,
córregos a dar com o pé. Alguém acredita que o prazo seja exequível?
Principalmente se até agora não se viu a convocação de sequer uma reunião
comunitária para ao menos iniciar a fase de diagnóstico? Ou vão fazer
diagnóstico em gabinete e sem auscultação?
Já quanto à
exigência de estar Plano de Saneamento Básico em consonância com os demais
planos, isso fica fácil, pois estes simplesmente inexistem – como o Plano de
Mobilidade Urbana e o Plano de Habitação de Interesse Social – ou existem só de
mentirinha, como o Plano Diretor, que mal cobre a área urbana da sede do
Município e um pouquinho da vila de Jaci Paraná.
Há acertos
nesta gestão? Com certeza há. Ai de nós, munícipes, se não os houvesse. O
perigo é, pela falta de organicidade da máquina montada por Hildon (isso
partindo da premissa de que foi realmente ele quem montou), tais acertos se perderem,
não serem sustentáveis e, ainda, serem objeto de inveja por parte dos que estão
investidos em cargos para os quais não preenchem o menor requisito.
Dá tempo de
consertar. Mas precisa de humildade e bom senso. O poder inebria; e sobriedade
é fundamental para exercê-lo.
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