A absoluta ausência de estabilidade
na chefia do estado, que no sistema político brasileiro se confunde com a
chefia de governo, faz com que os responsáveis por dirigir o país se cerquem, predominantemente,
de pessoas de dois tipos: subservientes e inimigas. As subservientes para que
tudo que se pretenda fazer seja mais rápido, com mais mãos atuando e menos
cabeças questionando. E as inimigas como forma de cooptação. O resultado é
óbvio: em vez de governo, tem-se desgoverno.
Os amigos, aqueles de verdade, que
em vez de irem correndo ao botequim mais próximo comprar o cigarro preferem
lembrar que fumar não é bom pra saúde, esses simplesmente não têm vez. Quando
muito, são mantidos no círculo doméstico, até ouvem desabafos, têm seus ombros
solicitados para recostar a cabeça. Mas
nada de serem chamados a compor a esfera de decisão.
Tem sido assim, é assim e, pelo
andar da carruagem, é de se crer que ainda vá perdurar esse tipo de
comportamento. E não é só na mais alta esfera de governo. É algo que se repete
nas unidades da Federação e nos municípios. Locupletar-se, garantir a reeleição
ou eleger o sucessor são os três pensamentos principais na cabeça dos
governantes. E também dos parlamentares.
No âmbito do Poder Executivo, a
subserviência se desdobra em camadas, descendo a ladeira hierárquica até as
gratificações menos significantes. E a estupidez se instala. Não apenas pelo
fato de ser a subserviência algo afim à estupidez, mas também porque sempre há
que serem preenchidos alguns cargos, ainda que num percentual mínimo, com quem
verdadeiramente seja capaz de desenvolver a contento as tarefas que lhe sejam
determinadas. E é exatamente aí que tudo piora de vez: quando surgem os tais
inocentes úteis, que com mais precisão semântica devem ser chamados ingênuos
úteis, ou mesmo estúpidos úteis.
A pior estupidez é a que se sobrepõe
à inteligência, à capacidade de trabalho, ao talento funcional. Essa, quando se
instala no poder, custa a sair dele, já que a substituição se faz mais difícil.
É essa estupidez que dá polimento a discursos e subsidia tecnicamente o
despotismo. E que, muitas vezes, escapa até mesmo às críticas, antes fazendo
com que o estúpido colaborador receba até elogios, por vezes sendo até apontado
como uma exceção num cenário de estupidez, um cenário que ele em verdade nutre
e sustenta.
E o mais triste é que esse tipo de
gente estúpida acredita mesmo que esteja fazendo o bem, ainda que estando a
serviço do mal. Com uma mídia que imbeciliza, cada vez menos pessoas são
capazes de identificar a verdadeira responsabilidade pelo que acontece. Se
Joana D’Arc fosse imolada hoje, as críticas se concentrariam em quem a amarrou
no tronco, quem deu a ordem para que fosse queimada e até mesmo em quem se
reuniu em torno para apreciar o espetáculo. E passa despercebido quem emprestou
o fósforo.
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